‘Eles vão resistir a ceder, pois era crime’, diz autor Mario Teixeira sobre romance gay de ‘Liberdade’
A partir desta segunda (6), a novela das 23h “Liberdade, Liberdade” (Globo) chega à sua metade e promete uma série de reviravoltas.
O autor Mario Teixeira falou à coluna sobre a trama de época que conta a história de Joaquina, filha de Tiradentes.
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O que mudará em ‘Liberdade, Liberdade’?
Haverá uma mudança de sentimentos e percepções dos personagens. Teremos outros crimes e Rubião (Mateus Solano) fará uma nova vítima. Joaquina (Andreia Horta) começa a entender que Rubião e ela são muito diferentes. Termina o noivado com ele e se entrega a Xavier (Bruno Ferrari). Quando acaba o noivado, Joaquina desperta a fúria de Rubião. A partir desse momento, o público verá ele ainda mais violento, mais dissimulado e implacável. E ao
perceber alguém em seu caminho, ele não pensará duas vezes em matar.
Como será abordado o romance gay de André (Caio Blat) e Tolentino (Ricardo Pereira)?
O romance deles é a luta contra o que sentem. Eles se tornam amigos. Com o tempo, a atração começa a existir, e essa tensão entre eles é refletida em brigas, discussões. Mas os dois vão resistir muito a ceder o que sentem um pelo outro, pois nesse período esse tipo de relação era criminosa. Sodomitas eram punidos com a morte.
Acha que o público é conservador? É preciso tomar cuidado com certos temas?
O público é muito inteligente e, com boas histórias e personagens humanos e verdadeiros, podemos explorar qualquer assunto. O mais importante é a gente contar uma boa história.
Joaquina é uma mocinha chata, como alguns acham?
É uma mulher forte, à frente do seu tempo. É topetuda, corajosa e, assim como grandes pensadores ao longo da história, incompreendida. De chata, não tem nada! Pelo contrário, é o exemplo de protagonista que tem força e cativa.
Qual a atualidade da novela? Acha importante a abordagem de conceitos como liberdade e justiça nesse momento pelo qual o Brasil passa?
Mesmo sendo uma novela de época, uma obra de ficção que tem ligação com os séculos 18 e 19, a história traz conceitos que são discutidos desde a formação do nosso país: liberdade, igualdade, justiça. Muitas das tramas ficcionais que se apresentam ali acabam tendo uma correlação com a realidade, pois, infelizmente, há questões críticas que se arrastaram ao longo dos séculos. Talvez por isso a trama tenha um ar muito atual e desperte o público para diversas discussões.
Onde reside a força de uma trama de época?
Novelas de época, assim como grandes romances, tem o encantamento de trazermos um período histórico diferente. Perceber as roupas, os hábitos, a cultura, as diferenças nas relações, tudo isso traz um frescor, um ar de novidade ao telespectador. Mas repito que tudo depende de uma boa história a ser contada!
Acha que a abordagem da escravidão poderia ser feita de maneira mais crítica? é um tema que ganhará mais destaque?
Eu acredito em bons personagens e em uma boa trama, que envolva o público. Isso vai muito além da questão racial ou qualquer outra questão. O mais importante é o talento do ator, ele e o personagem terem uma conexão. Em ‘Liberdade, Liberdade’ escrevi cada personagem com um enredo próprio. Ninguém entra para ficar de pano de fundo, e isso vale para todas as minhas obras. Se o ator está em cena, ele tem um propósito, aquilo cabe para o desenvolvimento do seu personagem e da trama. Acredito em enredos bem costurados e em personagens que se encaixem para juntos contarem a história proposta.
Temos personagens muito interessantes: uma escrava forra, Bertoleza, criada como branca, que não se encaixa em nenhum dos mundos, nem no dos brancos nem no dos negros, e que aprende na pele o que os escravos passam. Outro é um militar, Omar, que nasceu liberto, e que é um espião entre os rebeldes, a serviço da Coroa.
O telespectador hoje tem muitas opções de entretenimento. Como atraí-lo?
Na minha opinião, não tem fórmula. É estar antenado à sociedade, às novidades, aos diferentes e inovadores formatos e usar um pouco de tudo como inspiração. Mas o fator primordial é ter uma boa história em mãos, com personagens de verdade, humanos, iguais a você e eu. Isso é determinante para atrair o público.