‘Nunca fiz uma piada na vida que buscasse polêmica’, diz Rafinha Bastos

LÍGIA MESQUITA
O comediante Rafinha Bastos (Zé Carlos Barretta/Folhapress)
O comediante Rafinha Bastos (Zé Carlos Barretta/Folhapress)

Rafinha Bastos retorna à TV no dia 16 após um ano afastado desde que a Band acabou com o talk show “Agora É Tarde”. A volta se dá no Mulltishow com “Tá Rindo Do Quê?”.

Na atração, ele e Marcelo Marrom, mais um convidado por dia, visitam várias cidades em busca de curiosidades locais. Depois, usam esse material em piadas de um show de comédia “stand up”.

Rafinha, conhecido por suas polêmicas (foi processado por Wanessa Camargo por ter dito que comeria ela e seu bebê), não fugirá delas no humorístico. No espetáculo em Belém (PA), por exemplo, diz que os homens de lá são feios, “mistura de índio com trator agrícola”.

No segundo semestre, ele estreia no mesmo canal uma sátira às atrações policiais. A seguir, trechos da entrevista à coluna:

O que mudou migrando da TV aberta para a fechada?
Tô tendo muita liberdade para brincar com temas com que, em algum momento, teria problema na TV aberta. Agora, o que esse público pensa de mim, não tenho ideia. Na aberta tinha noção de que compravam aquele cara de “A Liga”, do “CQC”, com bom papo, opinião.

É uma característica do “Tá Rindo…” ter humor pesado?
Não. A galera se diverte. Essa visão do que é pesado, é externa. Ali tem uma doçura, uma homenagem. Não tô ali para xingar as pessoas na cara delas. Nunca fiz uma piada na vida que buscasse polêmica. Teve um momento que meu nome tava tão grande que qualquer coisa que falassem a meu respeito, ganhava repercussão. E como faço humor que tem nível de risco e ousadia um pouco acima da média, ficava vulnerável a descontextualizarem. Você, se quiser, faz uma matéria dizendo Rafinha Bastos xinga belenenses de tratores agrícolas. Só que o público cansou dessa descontextualização. Porque a verdade não tá na manchete do jornal, tá no programa que o público vê.

Você tem priorizado projetos em que participe de tudo?
Não tenho esse controle. Desde que entrei na TV, fui chamado para encabeçar projetos. Não digo que sou destaque por isso. Adoraria que me chamassem para fazer uma série na Globo e eu ficasse em casa sentado no rabo decorando texto. Não tem sido assim. Tô sempre lutando pelas minhas coisas. Poderia ter ficado na minha casa em depressão em diversas oportunidades. Mas tô lá bolando projeto, escrevendo. Das pessoas que conheci na TV, quem encabeça projetos?

Em um episódio você diz que pegou pesado e que teme perder a plateia. Isso aconteceu algumas vezes?
Teve shows muito bons, outros não tão bons, é normal. Criar piada é um processo doloroso. No palco, só tem uma chance, não pode voltar atrás. E não tem nada mais constrangedor para um comediante do que as pessoas não rirem. Lembro que o Mauricio Meireles falou: “nem acho isso tão engraçado, mas a minha coragem de estar falando aquilo na cara daquelas pessoas fazia com que ele me admirasse.
É uma característica sua causar desconforto na plateia?
Eu não busco esse desconforto. Mas se por acaso tiver uma ideia que possa gerar isso, não deixo de fazer. É importante essa diferença. A minha linha para recuar e não fazer a piada vai muito mais longe do que a de 98% das pessoas. Tanto que às vezes não consigo reconhecer onde posso ter perdido a mão. A minha linha é mais distante, é um processo de aprendizado. Mas não vou deixar de fazer uma coisa que eu não reconheça. Não vou dizer que não tenho limites, sou um cara que me arrisco mais.
Muita gente estava esperando o retorno de um Rafinha mais paz e amor e não é isso que aparece no “Tá Rindo…”…
São lugares diferentes. Esse programa sou muito mais eu do que aquela figura de colete apresentando um talk show [“Agora É Tarde”, na Band] com uma plateia de 200 pessoas e uma luz jogada na cara dele. Ali eu consigo ser eu dentro da medida possível de um espetáculo televisivo, cheio de pirotecnia. O “Tá Rindo” é muito mais eu, com meus amigos tirando sarro um da cara do outro. É muito mais autêntico. Porque estrutura de talk show é fake, não tem como não ser. É um formato prontinho. Como ser autêntico e se conectar com seu convidado quando tem um caminhão de fio elétrico conectado no seu rabo o tempo inteiro?