‘Só um psicopata consegue ser tão bom ator sempre’, diz José de Abreu

LÍGIA MESQUITA
O ator José de Abreu como Gibson, em 'A Regra do Jogo' (Globo)(Divulgação)
O ator José de Abreu como Gibson, em ‘A Regra do Jogo’ (Globo) (Divulgação)

O industrial reacionário e milionário Gibson Stewart revelou-se há um mês o vilão de “A Regra do Jogo” (Globo), novela das 21h de João Emanuel Carneiro.

Seu intérprete, José de Abreu, conta que soube em definitivo que seria o “Pai” da facção criminosa duas semanas antes de gravar. “O João me ligou e falou: você é o grande vilão”, diz o ator à coluna.

Em 2012, Abreu deu vida a outro personagem famoso de Carneiro, Nilo, o rei do lixão e explorador de menores de “Avenida Brasil”.

O que achou de a novela mostrar o milionário como o chefe do crime organizado?
Adorei! Acho uma coincidência ter a Operação Lava Jato agora, porque o Gibson tava na cabeça do João antes. Mas foi a Lava Jato que virou essa coisa de colocar na cadeia pessoas milionárias, o pessoal que frequenta a [revista] “Forbes”.

Qual personagem você prefere: Nilo ou Gibson?
Os dois. Ambos são geniais. O Gibson tem uma das coisas mais interessantes para um ator, ele representa o tempo todo. A defesa que ele faz da morte da Kiki [Deborah Evelyn] sem transparecer que tá fingindo, só um psicopata consegue ser tão bom ator sempre! Não existe um muxoxo que ele dê que não seja verdadeiro.

Por que a novela não foi um sucesso tão grande e imediato quanto “Avenida Brasil”?
Agora está batendo recorde atrás de recorde. No grupo de discussão o público disse que era muita novela com favela, violência. Tem umas coisas […], o Boni [ex-diretor da Globo] chamava de química. É inexplicável. “Roque Santeiro” e “Avenida Brasil” tiveram uma química insuperável. Isso depende de escalação, inspiração do autor, do diretor, astral dos atores, sei lá, vai somando. É algo que acontece de vez em quando. Mas é impossível repetir só porque é o mesmo autor. O Dias Gomes e o Aguinaldo [Silva] não fizeram outro sucesso como “Roque Santeiro”.

Acha que o espectador não quer ver a realidade?
“Pantanal” foi isso. Sem querer, o Jayme [Monjardim, diretor] supriu uma necessidade que o público tava querendo naquele momento de ver tuiuiú voando, ter a personagem que virava onça. Benedito [Ruy Barbosa], né? E lá vem ele de novo, agora que me dei conta (risos) [o autor escreve a próxima novela das 21h].
Mas não acho que tem isso de o público não querer ver, o ibope tem dado 33 pontos em SP [cada ponto equivale a 69 mil casas].

Nas redes sociais teve quem comparou o Gibson a você, por você ser petista…
…teve xingamento, aquela coisa primária “a arte imita a vida”. Com o Nilo foi igual, falavam que eu tinha nascido no lixo. Agora sou o chefe de quadrilha, embora de direita como eles [que me xingam]. A hora que fizer um padre, serei pedófilo. Se a pessoa não gosta de alguém, xinga de qualquer jeito. Foi o que o Umberto Eco disse, “a internet deu voz aos imbecis”.

 

>> Com BIANCA SOARES