Alexandre Avancini: ‘A hegemonia da Globo gerou acomodamento’

LÍGIA MESQUITA
O diretor Alexandre Avancini (Munir Chatack/Divulgação)
O diretor Alexandre Avancini (Munir Chatack/Divulgação)

Diretor de “Os Dez Mandamentos”, Alexandre Avancini, 50, diz que foram vários os desafios para colocar no ar o primeiro folhetim bíblico da Record.

“A trama se passa no deserto, e gravamos no Rio. Há um trabalho enorme de computação gráfica todos os dias para ‘apagar’ montanhas, mudar a luz”, diz o filho do diretor Walter Avancini.

Nesta semana a novela bateu recorde de audiência e ultrapassou mais uma vez a Globo, ao mostrar a abertura do mar Vermelho, com efeitos especiais feitos nos EUA.

Ex-funcionário da Globo, Avancini, que tem contrato com a Record até 2020, também estará à frente da próxima novela bíblica da emissora, “A Terra Prometida”.

Antes, fará a segunda parte de “Os Dez Mandamentos”, de 20 capítulos, para março. Ele falou à coluna:

Não havia no país recursos técnicos para ‘abrir’ o mar?
Havia. Nossa equipe de computação gráfica é muito competente, só que não temos capacidade industrial para fazer isso. A computação de água é a mais cara e trabalhosa. Para realizar um “frame”, a Stargate [estúdio americano] levou 16 horas.

É bom para o mercado mostrar que há teledramaturgia de qualidade fora da Globo?
É fundamental. A Globo não só detém o monopólio, mas engessou a dramaturgia.

De que maneira?
Repetindo uma fórmula que vem desde a TV Excelsior, da Tupi, uma dinâmica que o público não aceita mais. Faz um capítulo em que acontece tudo e outros 200 em que nada acontece. Quando a Globo consegue fugir disso, também faz novela de sucesso. A hegemonia gerou acomodamento. Não temos variação dramatúrgica: não tem ficção científica, terror, drama político. Competição gera florescimento saudável de ideias.

A Record não corre o risco de ficar na fórmula bíblica?
Não posso falar por ela, mas, pelo que sei, não ficará só nisso. E ainda há muita história da Bíblia para contar.

Houve críticas ao elenco de “Os Dez Mandamentos”, cheio de jovens sem trabalhos de peso. Como vê isso?
Puro preconceito. A pluralidade é importante, e também tivemos atores de mercado, como o Zécarlos Machado. Prezo a interpretação. Sem ator, não há novela de sucesso.