‘Quem diz que o Porta não fez o ‘Zorra’ mudar é bobo’, diz Ian SBF

LÍGIA MESQUITA
O diretor e roteirista Ian
O diretor e roteirista Ian SBF                          ( Zé Carlos Barretta/Folhapress)

Um dos fundadores do Porta dos Fundos, maior canal de humor na internet do país, Ian SBF criou, escreveu e dirigiu a primeira série de ficção do grupo para a televisão: “O Grande Gonzalez”, em exibição no canal pago Fox até o dia 14.

“Nossa preocupação era não virar um esquete grande nem uma miscelânea de piadas”, diz ele à coluna, sobre a trama que trata do assassinato de um mágico numa festa infantil.

Se haverá nova temporada, SBF diz que é preciso ver o final da atual para responder.

Leia a entrevista:

Por que a migração para a TV só agora?
Porque agora conseguimos ir da maneira que a gente queria, fazendo um projeto do nosso jeito. Sempre acham que a gente não queria ir para a TV, mas a gente sempre quis. Quando criamos o Porta, oferecemos primeiro para a Fox, e eles disseram não. Agora deu certo. E tivemos total liberdade. A censura partia mais da gente.

Há mais projetos para a TV?
Não fazemos projetos específicos para algum meio. Pensamos no conteúdo e aí depois vemos a duração que vai ter, onde melhor se encaixaria: internet, TV, cinema.

A TV está se apropriando da linguagem da internet?
Não acho que está tentando se apropriar. Se o Porta fez algo legal, foi mostrar que o Brasil não é tão careta, que o brasileiro está pronto para consumir conteúdo mais complicado, mais inteligente, menos besteirol.

Faltam bons roteiros na TV?
Pensando em Brasil, não dá nem para dizer nada. Falta muita coisa! (risos) Tanta gente podia estar fazendo coisas mais legais. É um círculo vicioso. Faltam histórias, a estrutura é errada.

A discussão sobre humor politicamente correto evoluiu?
Com certeza. Qualquer um que diga que o Porta não fez o “Zorra” [Globo] mudar é muito bobo. De novo, acho que nossa maior contribuição foi mostrar que o brasileiro pode entender piadas mais elaboradas.

Acha graça nesse dito humor que ataca minorias?
Acho graça em tudo que é engraçado. Se é bom, é de bom tom, é de bom gosto. Tudo que é bom é bom, ponto final. Agora, se a maioria se sente ofendida, tem alguma coisa errada aí.

Vocês se autocensuram?
Muito, mas nunca porque a piada é pesada ou não, mas porque não está engraçado. Se a gente achar que é engraçado, vamos usar.

Mas o processo é democrático?
Nas esquetes, é 100% democrático. Em ‘O Grande Gonzalez’ foi menos porque era um processo diferente, e eu era o redator-final. A gente não tinha tempo de sentar com todo mundo, de ler. Às vezes temos desavenças como qualquer grupo de amigos. Mas são sempre para o bem.

Alguém tem a decisão final?
Não, nunca tivemos um chefe. É sempre o grupo, a maioria manda.

Como vocês conseguem manter o grupo unido com tantos projetos?
A gente consegue pelo mesmo motivo que nos uniu, o interesse comum em fazer uma coisa interessante, uma coisa que todo mundo gosta. Temos o mesmo objetivo.

A internet terá espaço para conteúdos mais longos?
Sim. Quando se fala em internet nesse caso, as pessoas pensam em YouTube. Mas é Netflix, Amazon…tanta coisa. Sou contra falar em internet, cinema, televisão. É conteúdo, as plataformas que mudam.

Você assiste à televisão?
Muito pouco. Uso mais o Netflix. A TV tem um formato complicado, é difícil ter que parar tal hora para assistir a determinada coisa. Ver ‘on demand’ é melhor. Esse é o futuro.