‘Não tenho essa frescura de ser ‘underground”, diz Carioca, do ‘Pânico’
Há 17 anos na trupe do Pânico, nos programas na rádio Jovem Pan e, atualmente, na Band, Márvio Lúcio, 39, o Carioca, acaba de estrear no teatro com “Dilma Ducheff – Saudando a Mandioca”, em temporada pelo interior e ainda sem data para desembarcar em São Paulo.
“Queria fazer teatro, mas não via nada que pudesse entregar ali com a qualidade que faço na TV”, afirma.
Ele diz que, por enquanto, não pensa em carreira solo, como os ex-colegas Sabrina Sato e Ceará. “Por que seria apresentador? Sou o cara avacalhado.”
(BIANCA SOARES)
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Como manter um programa tantos anos no ar?
O “Pânico” sempre foi anárquico. Há tanto tempo no ar, a equipe tem uma forma de pensar. O que não tá engraçado, não entra. Fico o tempo todo com o radar no cotidiano. Estão falando do Jacquin? Vou fazer o Jacão.
Pensa em um programa seu?
Por que seria apresentador? Sou o cara avacalhado. Para fazer humor, precisa de uma galera. Mas tudo é questão de oportunidades. Participei de um longa [“A Esperança É a Última que Morre”] e cinema é uma coisa que me fascina. Quero continuar.
O “Pânico” tem humor fácil?
Chico Anysio dizia que humor é rir ou não rir. O que é engraçado é bom, o que não é engraçado, não é. Humor não tem discussão.
Piadas racistas e homofóbicas deveriam ser evitadas?
O humorista tem que fazer o que quiser. No bar todos fazem esse tipo de piada, mas na TV não pode? Tem que ter liberdade de expressão. O produto existe porque tem quem goste. Quem se sente mal, que não consuma.
Qual o limite que você usa para seus personagens?
Não tenho limite, mas com o tempo vem a experiência. Se pelo caminho mais longo também chego, por que me aborrecer? Tenho dois filhos, família para cuidar.
Qual personagem ainda gostaria de fazer?
Galvão Bueno. Depois da Dilma, do Pelé e do Neymar, é a figura mais popular. Não tenho essa frescura de ser ‘underground’, faço humor para o máximo de pessoas.
A internet mudou o jeito de fazer humor na TV?
Não. O “Pânico” foi um divisor de águas. Quando surgiu, tinha ritual pra falar com artista, culto à personalidade. Fomos na contramão.
Recentemente, o personagem Africano, do Edu Sterblitch, gerou acusações de racismo. Como você vê a situação?
Não deu certo? Para. Eu fazia o Didi Maiscedo, porque ele [Edir Macedo] é uma grande figura, um grande líder e um cara encantador. Desisti do personagem, mas enquanto fazia, não mencionava a Bíblia, nenhum símbolo.
Dá para fazer piada politicamente correta?
Quem acha dá para fazer que faça. Acho que dá para fazer humor com tudo. Quem vai dizer se o cara é bom é o público. Nenhuma ONG, ninguém tem que falar nada, senão é censura. É gente que procura pelo em ovo.
Quais são suas referências no humor atualmente?
Adoro o João Cláudio Moreno, um humorista do Piauí. É o artista mais talentoso do Brasil hoje. O Edu Sterblitch também é um grande talento.
Por que decidiu fazer teatro agora?
Há muito tempo queria ir para o teatro e as pessoas me pediam isso. Marcelo Serrado, Eri Johnson, Rafinha Bastos, Danilo Gentili me falavam ‘cara, não é possível que você ainda não está no teatro’. Mas eu tinha uma fobia, sabe? As pessoas gostam do que faço na televisão e eu não via nada que pudesse entregar com a mesma qualidade no teatro. Mas aí decidi fazer um personagem que já é sucesso na internet.
Como surgiu a personagem ‘Dilma Ducheff’?
Fui a primeira pessoa a fazer a Dilma, quando ela ainda nem era presidente. Nas eleições de 2010, ela disse que ia dançar o ‘Rebolation’ e eu pensei ‘imagine essa mulher dançando ‘Rebolation’… Materializei isso.
Por que fazer um personagem da presidente num momento de tanta polarização política?
Meu personagem é muito popular na internet, tenho vídeos com mais de 10 milhões de visualizações no Facebook. Na peça, proponho um diálogo com o público. As pessoas adoram fazer críticas, gritar ‘Fora Dilma’, mas será que elas sabem do que estão falando? Pego um cara na plateia e digo: você sabe o que é superávit primário? Não, né? Como um merda desse quer discutir comigo? Eu vitimizo a Dilma.
Não tem receio de ser tachado de defensor da presidente?
Não, porque estou apenas abrindo um debate. O espetáculo todo é um escracho. O que quero dizer é ‘politize-se mais’. Não vá pelos outros. A Dilma pode estar sofrendo aquele processo de inconsciente coletivo.