‘A cada momento vou dando um passinho’, diz Grazi Massafera

LÍGIA MESQUITA
Grazi Massafera (Estevam Avellar/Divulgação)
Grazi Massafera (Estevam Avellar/Divulgação)

Ao embarcar para Madri no fim de 2014 para um curso intensivo de atuação com Juan Carlos Corazza, “coach” de Javier Bardem, Grazi Massafera, 33, tinha um objetivo. Ela, que havia pensado em desistir de ser atriz, queria ganhar segurança para pedir à Globo um trabalho diferente.

“Voltei, fiz o pedido e joguei para o universo (risos)! Só não imaginei que a resposta viria tão rápida”, diz Grazi à coluna, por telefone.

A atriz, que já foi miss e BBB, recebeu então o convite do autor Walcyr Carrasco e do diretor Mauro Mendonça Filho para viver Larissa em “Verdades Secretas”. Na novela das 23h, ela é uma modelo que acaba se tornando viciada em crack.

Para o papel, a atriz visitou a cracolândia, em SP. “É um lugar de muito dor, de falta de esperança”, fala.

A atuação de Grazi, que até então havia feito mocinhas na TV, tem ganhado elogios. “A cada momento vou dando um passinho.”

Seu próximo passo na Globo, a coluna apurou, é a novela das 21h “Sagrada Família”, de Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari, em 2016. Leia a entrevista.

Como encara os elogios à sua atuação em “Verdades”?
Não me levo tão a sério assim. Eu levo a sério o meu trabalho. Daqui a pouco tem outro personagem, outros desafios. E o que fica são as boas lembranças, o aprendizado. Claro que é um momento muito bacana, mas se a novela não estivesse indo bem, eu estaria com a mesma disposição. Não pulo do barco.

Acha que a Larissa é um divisor de águas na sua carreira?
Não encaro assim. Desde que comecei a trabalhar como atriz, a cada momento vou dando um passinho. Isso está acontecendo porque é um trabalho com os melhores profissionais, em um horário que permite, com um texto bom. Tudo junto num momento em que eu estava preparada para receber.
A sensação que tenho é de que tive poucas oportunidades. As novelas que fiz tinham restrição de horário. Essa personagem me deu a liberdade que nunca tive.

Você disse que já sofreu discriminação de colegas. Acha que isso mudou?
Hoje, se existe, eu não percebo. Acho que as pessoas sentiram a seriedade com que venho tratando o meu trabalho e lidando com todo mundo ao meu redor. Quando isso acontece, não tem mais de onde atacar ou discriminar. No início, eu não sabia mesmo o que tava fazendo, nem onde estava. Mas não significa que não tinha seriedade. Fui ganhando experiência.

Ficou chateada com essa discriminação?
A grande sacada foi que não fiquei. Senão eu tinha ficado para trás. É só uma não aceitação e eu já lidei com várias (risos).

Na novela você faz muitas cenas de sexo, de nu. Lida bem com isso?
Faz parte de não me levar tão a sério, não sou intocável. A história é bem maior do que isso, e sou uma profissional disponível para o personagem. Nunca teve uma cena de nudez ou sexo gratuita. É pela história.

Por que decidiu estudar na Espanha com o Corazza?
Várias vezes pensei em desistir [de ser atriz]. Mas é uma coisa que tá sempre me puxando de volta. Foi legal ser apresentadora [do “Superbonita” (GNT)], eu estava indo pra outro caminho. Mas não significa que não quero ser apresentadora, acho que uma coisa não impede a outra.
Fui estudar porque queria estar mais preparada para chegar pra empresa e falar: quero fazer alguma coisa diferente. E o curso foi maravilhoso, o Corazza tira todas as suas capas, te deixa na carne. Quero fazer de novo.

Quer continuar fazendo trabalhos como apresentadora?
Não fecho essa porta. Acho que dá para conciliar [com o trabalho de atriz].

Como foi sua visita à cracolândia em SP? O que mudou em você após ir lá?
É muita dor, muito sofrimento. Todas pessoas com quem a gente conversou mostraram não ter muita esperança. Eu saí de lá tentando levar um pouco dessa dor que é estar ali.
As pessoas têm preconceito e ‘linkam’ quem está ali à marginalidade. Mas tem pessoas de todos os jeitos lá. Para eu fazer esse personagem não podia ter esse julgamento.
Eu, pessoalmente, quando saí de lá, cheguei em casa e liguei o chuveiro, comecei a fazer uma oração de agradecimento. Pelas minhas escolhas, pela água quente que saía do chuveiro. Voltei diferente de lá.

O que mudou da Larissa do começo de “Verdades Secretas” para agora? 
A Larissa foi se machucando muito e agora ela tá em carne viva, é uma ferida aberta. É uma degradação social, moral, física. Tem todo esse contexto.
Ela é diferente de tudo, do que sou, do que acredito. Tem agressividade, despudor, era garota de programa, queria ser famosa e não conseguiu. Tem o tabu da prostituição, da droga. Gostei muito de fazer a transição dessa Larissa para a de hoje. Tudo foi minuciosamente pensado, estudado.

É impossível imitar a realidade [de alguém viciado em crack], mas estamos conseguindo passar verdade, credibilidade.

Foi um susto se ver caracterizada nessa fase do vício da Larissa, suja, cabelo despenteado?
Preciso me ver daquele jeito, antes de gravar, pra eu acreditar, porque eu sou muito crítica. Desde o começo da novela, nunca apareci maquiada como as outras atrizes. Foi uma opção pra ir chegando naturalmente onde a Larissa está agora. Já fiquei uma semana sem lavar o cabelo para ver como ficava. Para chegar perto da realidade, deixei de fazer unha, depilação, não tiro sobrancelha.

Você é muito crítica com seu trabalho?
Eu sou muito crítica, mas a maturidade tem me ajudado. A gente vai procurando ter equilíbrio.
Existe um lugar que a crítica pode não te afetar, não te impedir de ser produtiva, esse lugar que tô buscando.

Você fez o filme “Billi Pig”. Pensa em voltar a trabalhar no cinema?
Penso. Eu tive um convite, mas não vou poder fazer. Tô feliz porque começaram a aparecer coisas diferentes, abriu o leque de opções.