‘Nossa novela não tem barriga, é tanquinho’, dizem autores de ‘I Love’

LÍGIA MESQUITA
Alcides Nogueira (à esq. e Mario Teixeira, autores de 'I Love Paraisópolis' (Ramon Vasconcelos/Divulgação)
Alcides Nogueira (à esq.) e Mario Teixeira, autores de ‘I Love Paraisópolis’ (Ramon Vasconcelos/Divulgação)

Os autores de “I Love Paraisópolis” (Globo), Alcides Nogueira (à esq. na foto) e Mario Teixeira, contam à coluna que a ideia de retratar essa comunidade vizinha ao bairro de alto padrão Morumbi, em São Paulo, era apresentar “mais as semelhanças do que as diferenças” entre esses universos.

Perto do capítulo cem dos 155 previstos, nos próximos dias a trama das 19h promete novidades, como o casamento dos protagonistas Mari (Bruna Marquezine) e Ben (Mauricio Destri).

“Temos preocupação em não deixar que a novela tenha barriga, se arraste”, diz Nogueira. “Nossa novela é tanquinho”, fala Teixeira.

Há críticas de que a favela mostrada é idealizada.

Mario Teixeira – Mostramos a realidade de forma contundente. Tratamos de assuntos importantes, tem Alzheimer, racismo, busão lotado. O que não fazemos é jogar um facho de luz no lado negativo. Mostramos os problemas de forma sarcástica. A comédia é a melhor alegoria da realidade.

Alcides Nogueira – É idealizada porque o horário tem classificação indicativa. Mas mostramos coisas por meio de signos, personagens reclamando de dinheiro, bandido cobrando pedágio.

Era uma preocupação todos personagens terem função?

Nogueira – Ninguém tá lá pra servir cafezinho. Se vamos falar de uma comunidade, todos têm ação.
Teixeira – Temos horror de personagem sem função dramática. Todos têm uma.

A novela tem sete negros no elenco e aborda racismo sem fazer merchandising social.

Nogueira – Não precisa fazer isso, é chato. A Soraya [Letícia Spiller] disse ‘Tinha que ser preta’ e foi processada. A gente prefere colocar o racismo na ação do que falar “é crime, artigo tal etc.”

Teixeira – A Lucy Ramos, que faz a psicóloga Patrícia, disse que é a primeira vez que não é escrava nem criada em novela. Quando sua personagem é chamada de morena, ela diz: sou preta! A ação funciona mais.

A partir do capítulo cem mudará muita coisa?

Nogueira –A gente tem preocupação grande em não deixar que a novela tenha barriga, se arraste.
Vimos que não havia como não fazer o casamento de Ben e Mari no meio da novela, então vamos fazer. E daí vão surgir outras ações. Na teledramaturgia antiga, a gente tinha um pouco de medo de soltar história. Hoje não tem mais esse medo.
Solta, porque a coisa vem. E o telespectador fica ligado.
Teixeira- A nossa novela não tem barriga, é tanquinho (risos). Nos tempos atuais não dá mais pra enrolar o telespectador, né?
A revelação de quem era o pai de Mari aconteceu na segunda ou terceira semana da novela. A gente acredita que ação desencadeia mais ação.

É difícil escrever humor?
Nogueira – Muito difícil. Humoristas são sofredores. Nos tivemos o privilégio de pegar um elenco de comediantes bons. A Tatá Werneck é um escândalo, é humorista fantástica.
Teixeira – O humor não pode nunca deixar de levar em consideração a inteligência do sujeito que tá do outro lado. Se isso acontecer, aí ele fica idiotizado.
Vocês têm preocupação em não subestimar o telespectador?
Teixeira- E também em não superestimar, colocar na medida certa.
Nogueira- Vamos tateando até encontrar a medida.
Até porque existe uma coisa que só no Brasil acontece, o espectador brasileiro tem profundo conhecimento de teledramaturgia. Tudo que não sabe de teatro, sabe de tevê.
Teixeira – E hoje mais do que nunca não compra gato por lebre.
O Grego (Caio Castro) é vilão mesmo? A gente vê ele cometer crimes, mas ele tem um lado bem leve, ouve sempre a tia Paulucha (Fabiula Nascimento).

Teixeira- Essa confusão se dá na vida real, muitos bandidos em comunidades têm esse lado Robin Hood. Eles ajudam a comunidade, exploram absurdamente, mas distribuem cesta básica, fazem serviço social.
O Grego é vilão terrível, manda roubar carro, detonou um salão de cabeleireiro porque não pagava a taxa de proteção dele.
Nogueira- O conceito de família dele é meio algo da máfia. Ninguém mexe com a tia, ele dá bronca no primo.

 

Acompanham a novela pelas redes sociais? Prestam atenção nas opiniões dos telespectadores?
Teixeira- É importante ressaltar que esse tipo de opinião não influencia em nada na novela, na nossa narrativa.
A novela é algo extremamente popular. E o grosso do telespectador não se manifesta a esse ponto nas redes sociais, exigindo isso e aquilo. Acho que a maioria quer se divertir.
É que tá na moda dizer que o Ibope, a audiência, determina a novela, que fulano aproveita determinado personagem porque aí a novela vai e encontra seu eixo, acho que é o contrário.
O público gosta de ser surpreendido, não quer quer aconteça as coisas do modo como está esperando.
Nogueira- Eu não acompanho a audiência minuto a minuto, só nos intervalos.
Essa história de falar que entra personagem e o ibope cai é conversa. O cara pode ter levantado pra fazer xixi…

 

>> Com BIANCA SOARES