‘Público não quer ver repetição da vida na TV’, diz Othon Bastos
Em um intervalo de quatro meses, Othon Bastos, 82, voltou no tempo 150 anos.
Do vilão Silviano, em “Império”, ele se transformou no Mestre de “Além do Tempo”, nova novela das seis, que tem a primeira fase passada no século 19.
Na trama de Elizabeth Jhin que aborda reencarnação, ele será o mentor do anjo Ariel (Michel Melamed) e fará a ponte entre o mundo terrestre e o espiritual.
Com atuação em mais de 80 filmes, Bastos reclama da falta de bons papéis para veteranos. E avisa que não pensa em parar de trabalhar. “Senão a sensação que a gente tem é que está aposentado, de pijama em casa, jogando gamão”, afirma à coluna.
★
É difícil ter bons trabalhos para atores mais velhos?
Está cada vez mais difícil. Os autores não estão escrevendo mais textos para a, vamos dizer, terceira idade. Eles estão fazendo novelas para jovens. Não sei se é isso que o público quer, mas a verdade é que a experiência está com a gente. Nós é que podemos até ajudá-los numa comunhão de personagens jovens com adultos.
O senhor fez o Cinema Novo, transgressor. O que acha de polêmica sobre beijo gay em novela?
Respondo o que o papa Francisco disse: ‘Quem sou eu para julgar os gays?’. Vivemos uma onda conservadora. Ainda há preconceito grande com negro, gay, prostituta… A sociedade não aceita, acha que se der liberdade vão destruir a sociedade.
A arte tem que se dobrar ao politicamente correto?
Não. Não há peça que não tenha nu, sexo, violência, tudo está aí. Mas as pessoas não querem ver na TV a repetição da vida real. Aí é melhor pegar uma novela como esta, de época. Hoje, se você pegar a literatura, a música, o cinema, está tudo muito acomodado. Falta amor, falta poesia.
Os artistas estão com medo de dar opinião?
Hoje em dia se distorce tudo. Você diz algo e vem o YouTube, o Face não sei o quê e distorce. E você não pode reagir. Na internet não há uma autobiografia consentida, podem inventar o que quiserem.
>> com VICTORIA AZEVEDO